sexta-feira, 20 de maio de 2016


Andava a ruminar em pensamentos desavindos e deixei-me ir longe demais pela voz de um espetáculo atrasado. Estava a deixar-me soterrar na solidão e agarrei frenética o vento: fui a um cemitério de elefantes e saquei dentes novos. Delirava com sons menos desalinhados e tocava acordeão nas saídas e entradas que vinham até mim. Tenho sono Alisa, oferece-me a tua almofada dos ursinhos.

Andava pelo pasto a ruminar e fiz um achado: vi-te a olhares para mim com olhos floridos e soube que eras. És para mim ervinha doce, és mansa e eu estava à tua espera. Fiz um acordo contigo: passavas tempo comigo e eu regava-te no verão. Quando estávamos juntos tu declaraste-te: “quero a tua água doce para o resto da minha vida.” Ri-me e disse apenas “sim”.

Um dois três barris de pólvora acesos explodem na parte de cima dos dedos e rebentam todas as marcas do tempo. Diz-me irmão, onde apanhaste o luar que mora no teu interior? Um dois três dedos acesos fora de prazo fazem ilusionismo num céu curto de vistas. O luar sufoca no teu interior irmão pois é sempre tarde para ele. Três dois um o sol morreu porque fugiu para demasiado longe.

Mar longo no olhar faz crispar o som de um pássaro numa paisagem distorcida por uma tempestade. Onde vais pássaro fugitivo? É um escape sem futuro pois tudo em volta mata a sua respiração. Cai do céu um pássaro sem poiso para descansar um corpo cheio de naufrágios e palavras por dizer, cai sem fio condutor. E agora pássaro sem voo? “Vou empilhar conchas e contar os anos passar, vou subtrair ossos aos cadáveres”.