Pediste-me algo escrito, querias que cheirasse a suor de animais selvagens e que envolvesse um
abecedáreio tão completo que acrescentaste frases forjadas: quiseste que datilografasse uma carta de amor ou foi
uma catarata de dinamite que faz furor nos corações? Desconheço essas
artimanhas mas elaborei-te uma teia de aranha. Era uma teia de aranha de
tamanho médio, eregia com fios de seda grossos para não caires quando brincares
aos equilíbrios, mas não te preocupes pois tens umas asas extra escondidas no
baú da milagreira para o caso do fio rebentar. Vieste do âmbar, estavas
quietinho cor de laranja e eu dei-te vida, ressuscitei-te de forma romântica:
fui princesa encantada, vim de cavalo branco e manso e dei-te um beijo nos teus
lábios carnudos, mal acordaste disseste: “olá, há mais desses?” Quiseste montar
o meu cavalo branco e ele deu-te um coice, rimo-nos os dois, tinhas muitas
pernas e andavas muito mais rápido do que eu mas soubeste esparar por mim, no
fim ofereci-te uma serenata: “aranha, aranhiça, sou tua presa, desejo ser o teu
prato principal, põe um pouco de sal e farei parte da tua teia de aço”. Respondeste-me
apenas: “serás o meu prato principal minha mosquita, serás todos os pratos da
minha teia d’ouro”
Dedicado à aranhiça e ao mosquito
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