sábado, 23 de agosto de 2014


Moras dentro de mim
Um lume aceso
Que se alastra como o vento
Abrindo um campo imenso
Onde mergulho:
Deixo-me invadir pela tua luz
Pelos milhões de partículas
De contentamento que se seguem
 
Jaime Campos
 
Morares dentro de mim foi a melhor coisa que me aconteceu na vida. Salvas-me a cada dia que passa. Tu és um campo imenso e mergulhar dentro de ti tanto é maravilhoso como mete medo. Mas o teu amor verdadeiro é verdadeiramente luminoso e traz-me tanta vida, vida que eu julgava já não existir. Nunca te vás embora porque o meu contentamento surge com o nosso contentamento. Cada invasão tua dentro de mim cada felicidade minha. E não há ninguém que me faça tão feliz. Segue-me amor, por todos os meus milhões de partículas que chamam por ti, que nos desejam, que nos festejam. Somos juntos um lume acesso que se propaga pelos nossos corações, desmedido. Demoremo-nos dentro um do outro para a eternidade.

E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.


(Mia Couto)

Sim, amor, com cada entrada em ti afogo-me no teu mundo e sou mais eu, mais desperta para algo maior que cresce sempre mais entre nós. Cego porque quero, para ver mais do que alguma vez vi pois ofereces-me a tua riqueza, algo que nunca senti. Sol e Lua, ambos me trazes, os teus, esculpidos só para mim. Minha noite alvorecida vens sempre para eu te saber meu.




Eu começo em mim. e escrevo como eu.

sábado, 16 de agosto de 2014


mas desta noite
Nenhum suspiro,  pensamento
Beijo ou olhar seja  
perdido
 
(W. D. Auden)
 
Sim, amor meu, não me deixes adormecer, para que tudo aconteça entre nós esta noite. O que tem esta noite de especial, perguntas? É nossa, uma noite em que nos sabemos um do outro e as estrelas cantam para nós. Peço o teu toque, aquele que conheço há décadas, peço-o dentro de mim. O rio que me percorre é o mesmo do que o teu e viajará longe esta noite. Esta noite pertence-nos, ofereço-ta, prenda de vontade de proximidade. Então vem, vamos juntos os dois.

"Procuro a  ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo"
 
(Eugénio de Andrade)

A  ternura súbita vem surpresa como um raio de sol num dia cinzento, vem de repente, abre-se de repente. Como tu vens às vezes, prenda de coração minha, vindo de próximo, olhos do tamanho do mundo. Nasces em mim e cada olhar alegra-nos.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014


Eliot

 Morreste  naufragado Eliot. Tens a certeza? Porque leio agora cada verso teu e sinto-te mais vivo do que nunca. Há em ti uma vontade de continuares a captar tudo aquilo que vês, de tomares teu cada momento que observas. O que há de escondido também é teu, pois reconheces todas as línguas. A tua magia Eliot habita num mundo que nos conta tudo: a dança que a move é espantosa, são crianças brincando nos seus ritmos de liberdade. Vale a pena estares vivo pois as tuas divagações são o alimento de júbilo nosso. Perturba o universo, espreme-o quanto quiseres: faz com que o teu pensamento entre no caos suficiente para criares e recriares o teu universo. Vale a pena Eliot, vale a pena, seguires a tua voz e dizeres-nos quais são as tuas palavras de eleição.

Ò  Tó cadê a Maria, vistes-a?
Ò mulher sei lá da Maria, foi à fonte, sei lá…

Viva a Maria da Fonte
A cavalo e sem cair
Com a corneta na boca
A tocar a reunir

Eia avante, portugueses
Eia avante, não temer
Pela santa liberdade
Triunfar ou perecer!(refrão)

Lá raiou a liberdade
Que a nação há-de aditar
Glória ao Minho, que primeiro
O seu grito fez soar!

Essa mulher lá do Minho
Que da foice fez espada
Há-de ter na lusa história
Uma página dourada!
Hino da Maria da Fonte
E aqui vai uma homenagem a um grande homem:


Talcott Parsons

sábado, 2 de agosto de 2014

“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios.”

(Charles Chaplin)

Que ensaios? Somos deitados aos leões sem aviso prévio e que nos desembaracemos. E atuamos, atuamos perante esta situação ou aquela, perante esta ou aquela pessoa, consoante as áreas da vida. Usamos constantemente máscaras. Odeio isso! Mas exigem-me isso! Não posso ser eu. Sou bastante criticada. E sinto-me verdadeiramente mal. Porque me preocupo com isso, com o que os outros pensam de mim. Mas eu vivo em sociedade. Asfixia-me. Gostava de me sentir mais livre. Passei por uma situação horrível na minha vida. Nunca me tinham dito que podia acontecer. Tantos sonhos. E na minha cabeça quase todos realizáveis. Ensaios? Fizeste mal, ora torna a fazer. Fizeste merda? Tens as consequências, não podes voltar atrás. Isso é que era bom, ensaios. O mal não se desfaz, o que está feito feito está.



Era uma vez um A. que andava interessado numa garota. Ela desconfiou disso e pôs-se a pensar nele. Era uma figura interessante. Hum. A. não tinha coragem de se chegar ao pé dela. S. continuou a pensar em A. S. começou a pensar de tal forma em A. que se sentiu atraída por ele. Foi falar com ele. Olha lá, soube que tu estavas interessado em mim, eu também estou interessada em ti, como fazemos isto? A. era muito tímido. Olha, não percebo nada disto. Olha, eu também não, mas acho que temos de dar um beijo. Mas eu não posso. Porquê? Tenho mau hálito. Então vai lavar os dentes e a boca e depois damos o beijo. Ok, mas ainda assim não sei se a coisa vai resultar. Vamos tentar. A. lá foi. Depois voltou já todo limpinho da boca. S. disse-lhe: então podemos? E começaram a dar um beijo. Ai, queixou-se A. Desculpa, tenho um aparelho na boca, não és só tu que tens problemas. Então tira. Isto não se pode tirar. Ah, ok. Bem, então ficamos assim, eu tenho mau hálito e tu tens um aparelho. Fomos feitos um para o outro.

Quando falo contigo, tens razão, chama-lhe lá sintonia e afinidade, eu chamo-lhe Alegria e Magia…e…e…e…e…Amor Verdadeiro!


Os nossos filhos saltarão à corda, brincaram ao elástico, ao pião e aos berlindes.

Sabes  o que significas para mim. Quem sabe, digo timidamente: deixa que te  surpreenda. Há em mim um desejo de ser melhor para ti: dar-te mais atenção. Se fosses uma música eu ia querer passar o dia a ouvi-la. Se escrevesse uma história sobre ti escreveria sempre mais. Framboesa. A minha dança de te dar as boas vindas é a tua também. Sei o que significas para mim. Apanhamos sempre o comboio. O nosso. Se durmo? Durmo virada para ti, aconchegada por ti. E tu também. Se as nossas flores são Primaveris? Ela são pássaros. O que é o sol? Ele amanhece dentro da nossa união e ilumina cada parte de nós. Vamos? Vem dar o nome às ruas onde passeamos juntos, às borboletas que nos acompanham e aos barcos que partem connosco. Quero surpreender-te, como faz a raposa ao coelho.
Peixinho mais saltitão do mar, escamas arco-íris, olhito solto, nadas no mar como se este fosse o teu reinado. E eu sou a tua sereia cor-de-rosa.